
Ao papel da ética na administração pública, como instrumento de prevenção da corrupção, deve-se somar muitos outros mecanismos na promoção da boa governança, base do fortalecimento do processo democrático. Dentre eles, destacamos a transparência, a integridade, a participação e o controle social, o desenvolvimento sustentável, o livre acesso à informação, a prestação de contas, os recursos do governo eletrônico, a educação política, a redução da burocracia e as boas práticas de conduta na administração pública, explicitadas nos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e demais princípios, tais como, dignidade, urbanidade, probidade, honestidade, etc. Signatário da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, o Brasil, desde 2006, está comprometido, perante seus pares na comunidade internacional, a promover, dentre outras recomendações, a integridade, a honestidade e a responsabilidade entre seus funcionários públicos, além de implementar códigos ou normas de conduta para o correto, honroso e devido cumprimento das funções públicas. A promoção da educação política, da transparência pública e da cooperação internacional é também ressaltada pela Convenção, único instrumento global de combate à corrupção. Apesar dos reconhecidos esforços do governo brasileiro em desenvolver ações de promoção da ética e combate à corrupção e da crescente conscientização política da população, o país continua ocupando uma posição intermediária, nos treze índices de percepção da corrupção publicados até o momento pela Transparência Internacional, organização não-governamental com sede em Berlim, que, desde julho de 2007, não está mais vinculada à Transparência Brasil, por decisão desta última. A pesquisa da Transparência Internacional revela que a credibilidade nos políticos e nas instituições políticas brasileiras, onde o bem público tem sido com freqüência, atropelado por interesses pessoais e/ou político-partidários, permanece ainda muito abalada perante a opinião pública. Gerando ceticismo generalizado, a falta de credibilidade, impede o fortalecimento da participação e do controle social no exercício da cidadania, o que, por sua vez, prejudica o processo de combate à corrupção. Em pesquisa que pretende medir os custos econômicos da corrupção, a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo recomenda, além da redução dos gastos públicos, a criação e fortalecimento de mecanismos de prevenção e controle da corrupção na administração pública e a redução da percepção de impunidade por meio de uma justiça mais rápida e eficiente.
Por Lígia Pavan Baptista
Doutora em Ética e Filosofia Política, Universidade de São Paulo
0 comentários:
Postar um comentário