ESTADO DE PEDINTES E O SINAL DE PÉSSIMOS GOVERNANTES



Falar de políticas públicas de lazer no momento pelo qual passa a nossa sociedade, eivada de desempregados, miseráveis e famintos, frutos das políticas neoliberais que vêm desconstruindo as conquistas sociais historicamente constituídas através das lutas dos trabalhadores brasileiros e mundiais em diferentes momentos históricos, é um grande desafio.
Porém, gostaríamos de enfatizar que percebemos nas atividades de lazer um momento de intervenção pedagógica, uma possibilidade de contraponto ao que está posto no momento atual, uma rica oportunidade de participar dos movimentos sociais organizados, mesmo tendo consciência de que a concepção de estado ora constituída - neoliberal, portanto privatizante, onde se privilegia as exigências do mercado, que supera as das necessidades da grande massa trabalhadora - é determinante no que tange à consecução de qualquer projeto, principalmente naqueles que têm a intenção clara de serem mais um instrumento de conscientização das massas oprimidas.
Nessa perspectiva, pensa-se o lazer como uma esfera de importante significação na vida em sociedade, vendo-o como um momento em que os trabalhadores também se constroem histórica, social e culturalmente, pelo seu conteúdo, pelos valores que são experimentados, pelas atitudes vividas e, fundamentalmente, pela relação cidadã que pode ser estabelecida com esse tempo, Percebemos, portanto, as atividades de lazer como uma oportunidade de desenvolvimento de valores contestadores da sociedade atual, que caminha no terceiro milênio como promotor da exclusão e das desigualdades, crescendo em última instância, a responsabilidade de todos aqueles que resistem ao canto das sereias, propala dor das maravilhas do projeto histórico neoliberal, definidor de um quadro de exclusão social de proporções jamais vistas e sentidas, sinalizador de um novo século e de um novo milênio já nascidos sob a égide do fomento das desigualdades sociais, desigualdades essas que se recrudescem a cada dia, conforme nos mostram os últimos dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA)1 , revelando que 80, 45% dos baianos se situam abaixo da chamada "linha de pobreza", ganhando menos de R$ 132 por mês e que 60,24% chegavam a estar abaixo da "linha de indigência", com rendimento inferior a R$ 65.
Em ambos os indicadores, o Estado ocupa a terceira pior posição do Brasil, só perdendo para o Maranhão e o Piauí, segundo a mesma pesquisa, o município de Feira de Santana se encontra com 64,51% da população em estado de pobreza. um outro dado alarmante é indicado por um estudo2 feito com crianças de creches públicas e postos de saúde do Brasil, indicando que os níveis de anemia e carência de vitamina A vêm aumentando nas últimas décadas.
E para finalizar esses dados, que são apenas alguns dentre tantos que apontam para a necessidade de promover políticas públicas que sejam verdadeiramente políticas sociais, gostaríamos de citar os Indicadores do Desenvolvimento Mundial de 1999, coletados pelo BIRD, que diz que os 20% da população brasileira mais pobre detêm apenas 2,5% da renda nacional. Enquanto isso, os 20% dos brasileiros mais ricos ficam com 64,2% dela. 3
Por conta de todos esses dados supracitados, parece-nos difícil falarmos de lazer - que quer queiramos ou não, é um dos indicadores de qualidade de vida de um povo, Ao que tudo indica, o lazer do brasileiro é inexistente, pelo menos para os que compõem a massa de contingente arrolada nesses levantamentos feitos por organizações governamentais. Mas de que forma intervir? Cruzar os braços e criticar as propostas oficiais de lazer? Seria uma postura comodista demais. O que precisamos é buscar respostas sem com isso, deixar de tecer críticas às propostas de políticas de lazer de cunho assistencialistas, precisamos cobrar dos governos respostas concretas para o dilema dos espaços para o lazer do trabalhador e já que o lazer não está dissociado do trabalho, na esteira das reivindicações pelo desenvolvimento de políticas públicas setoriais de lazer, a fim de responder aos anseios da população no que se refere à prática do lazer, estaremos também trazendo à tona, a necessidade de ampliar as oportunidades de emprego para o trabalhador brasileiro. Instrumento de cidadania
É importante ressaltar que as políticas públicas como nos dizem Palmeira (1996), não são apenas políticas concebidas e propostas pelo setor governamental. As políticas públicas envolvem esforços significativos de amplos setores da população que lutam pela melhoria de suas condições de vida. Ressalta a autora que, assim procedendo, a população está exercendo o seu poder de participação política, logo de democracia. Democracia esta que passa necessariamente pela questão cada vez mais essencial na sociedade contemporânea: a discussão entre o público e o privado.
Esta discussão também se apresenta quando nos debruçamos sobre a análise do lazer, e que invariavelmente se apresenta quando a questão é a alocação dos recursos humanos e financeiros que são investidos em ações que não trazem benefícios para a população de uma forma geral, beneficiando apenas um grupo ou investindo o capital público em ações que sustentam e reforçam a lógica da sociedade capitalista.

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